Posses

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Tem-se dito que as festas Nicolinas terão raízes na posse ou renda deixada aos meninos do coro da Colegiada de Guimarães por certo cónego da Colegiada de Guimarães, nunca identificado. Essa renda, que incluía as maçãs que seriam distribuídas pelas damas e donzelas de Guimarães, era colhida dos dízimos de Urgezes, que pertenciam à Colegiada de Guimarães. A renda de Urgezes era cobrada pelos meninos do coro da Colegiada, que se dirigiam àquela paróquia, dois paramentados com vestes de cardeal e um transformado em bispo, que figuraria S. Nicolau. Com eles seguia grande número de estudantes. Esta posse acabaria na sequência da extinção dos dízimos em Portugal, em 1834, não sem antes fazer correr muita tinta em tribunal.

Mas, desde tempos remotos, havia outras posses, de diferentes naturezas, que eram sempre reclamadas pelos estudantes. Uma delas era a posse do Cucúsio*, magistralmente descrita por Raul Brandão, em "A Farsa". Outra das que os estudantes nunca falhavam era a posse do mato, oferecido pelos oleiros da Cruz de Pedra: era com esse mato que, junto à basílica de S. Pedro, os estudantes assavam as castanhas para o magusto em que partilhavam com os músicos que os acompanharam e com a população o resultado da colheita daquele dia.

No passado, havia também posses particulares. No virar do século XIX para o século XX, a mais marcante era a Posse do Padre Monteiro, cuja edição de 1904.

Em 1881, o "Religião e Pátria" classificava as posses como uma das mais entusiásticas e especiais brincadeiras destas festas escolásticas.

Este número das festas, em que os estudantes andam pelas casas reclamando "venha a posse!", sendo acolhidos pelos benfeitorescom discursos que emulam o pregão, tem sido, nos últimos anos, um daqueles em que melhor tem tido uma evolução mais interessante, suscitando muito interesse, tendo um acompanhamento cada vez maior. As posses são, nos tempos que correm, uma das maiores demonstrações da vitalidade e do carácter popular das Festas Nicolinas.

   Fonte:http://araduca.blogspot.com/         

                                          

*João Cucusio vivia na Rua Nova, onde faleceu no dia 1 de Agosto de 1825. Costumava ser visitado, no dia 5 de Dezembro de cada ano, pelos estudantes, quando andavam “às posses”, que lhe faziam à porta uma grande gritaria: "Ò Cucusio mostra o cu" ao que ele sempre acabava por satisfazer, “vindo à janela mostrar-lhes o olho do cu”. (Fonte:Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria).

As posses foram ao longo dos tempos sendo apropriadas pela cidade e foram muitas aquelas que ficaram famosas:

Há Posses que descem atadas ao cordão... 
Há outras, de vitualhas, de pôr a boca molhada e que logo ali são petiscadas. 
Posses há de fazer tremer o coração. 
Há Posses apresentadas à sacada.., com mais ou menos decoro. 
Há Posses que descem à rua e de lume são cercadas.

VENHA A POSSE!!... 
E VENHA A POSSE!!... 
A POSSE É NOSSA!!!

As Posses são pois, bandos de estudantes que, com a tocata acompanhando a esturdia ao som do hino Escholástico, vão a cada casa ou estabelecimento combinado, buscar ou aguardar a posse quase sempre bem “gritada”. Dádiva generosa para o magusto daquela noite de convivialidade.

Aí pelas nove da noite já a Jovem Academia se fez à Cruz de Pedra a buscar uma simbólica posse de mato e lenha que outrora os oleiros ofereciam para o Magusto que mais uma vez reunia junto à fogueira, que se levantava próximo do Pinheiro, a Academia e o Povo. Depois por ai vem, cidade dentro, rua a rua, até às casas certas que "dão posse", assim uma espécie de oferta habitual que, no uso continuado, se torna para os estudantes quase um direito e para os donatários uma quase obrigação. Dantes eram as "casas nobres", em
tempos mais recentes as "casas ricas" e na actualidade algumas casas comerciais e associações a chamar a si este exercício tradicional que se resume a dar e a receber com alegria: mais uma vez a Cidade a estimar a sua Academia, os velhos a dizerem aos novos que os querem felizes. A recolha das posses faz-se de casa em casa ao som do Hino Nicolino, nos anos 50 ainda executado pela famosa Banda dos Guises, nos nossos dias por modesta charanga, sempre porém em fraternal alegria. E parados na frente das varandas para o efeito iluminadas, os jovens gritam repetidamente, enquanto dançam de braços abertos, ombro a ombro ao som do seu hino:
- Venha a posse! Venha a posse!
E a posse não vem à primeira nem à segunda insistência. Vem antes o discurso, umas vezes critico outras vezes satírico, umas vezes em verso outras em prosa, tão depressa paternal como acintoso, sempre de regra aplaudido pelos acompanhantes da Academia, um publico já vezeiro que a acompanha nessa noite na recolha do chiste e graça da função.
E findo o discurso:
- Venha a posse! Venha a posse!
E o cesto lá desce, florido, iluminado, com seu presunto, seu queijo, suas batatas e nabos, por vezes umas notas de moeda corrente, suspenso da corda que pára fora do alcance das mãos que se expandem nos braços que saltam para o alcançar. E, despojado rapidamente do seu conteúdo, lá vai o cesto subindo na corda enquanto de novo se repete o Hino e a Academia saúda o feliz donatário e lhe deseja vida e saúde por muitos e muitos anos.
Que quanto melhor correr a coisa mais farta será a moina que os estudantes vão organizar lá para o meio da noite e o almoço em que reunirão os mais directos colaboradores da Festa. Ora este é um número de fortes raízes populares que a nossa Academia soube preservar através dos tempos e que suscita muito interesse pelo aparato simples da recolha e pela muita alegria e graça das intervenções dos donatários, tantas vezes a cargo de interposta pessoa com bom preparo para a função. E célebres eram, lá pelos anos quarenta e cinquenta as posses do Petisqueira nos seus hiperbólicos discursos e as do Barroca no mostrar público das pudendas partes...
Também esta vivência das Posses é aproveitada por muitos Velhos Nicolinos para matar saudades no pretexto de mais uma Ceia e são muitas as tertúlias que não deixam escapar a oportunidade. Deixemos como exemplo a tertúlia Quatro de Dezembro que, há mais de 60 anos reúne, primeiro na extinta tasca da Joaninha, à Feira do Pão, e depois na Tasca do Quim Conas, ali para Santa Luzia: esta tertúlia concorre sempre, para a alegria dos académicos, numa Posse em moeda que eles recebem na forma costumada. 

Outras posses se vão mantendo ao longo dos anos: a da Rua Nova, a da Clarinha, a da ACFN, etc. Por tradição a última posse, antes de rumarem ao Largo da Oliveira, é sempre, por vezes já quase no dia seguinte, a da Torre dos Almadas sede dos Velhos Nicolinos.

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