Marcelo Caetano, num texto de 1934, a propósito da formação das elites, defendia que eram precisas pelo menos três gerações para o povo ambicionar chegar à universidade, à elite: “o filho de um analfabeto, com trabalho e perseverança, pode completar a escola primária. É possível que um filho deste, com muito trabalho e esforço, venha a ser um operário especializado e, reunindo condições naturais, pode um filho deste operário especializado ambicionar a universidade.” Com o Estado Novo, o perfil elitista do Liceu, a invenção de Aristóteles, face à Escola Técnica é claro e nítido. Desde os anos sessenta que os cursos secundários que registam maior crescimento, foram os que permitem o acesso ao ensino superior. A elevação do nível de vida da população, produzindo um natural crescimento nas expectativas de ascensão social, a "unificação" do ensino liceal e ensino técnico-profissional (1976 a 1981), transformou o Ensino Secundário, num mero corredor de passagem para o ensino superior. Como explicação teríamos as elevadas taxas de desemprego entre os jovens, sobretudo entre as raparigas. Este facto estimulou que muitos prosseguissem os estudos, tendo em vista obter melhores qualificações académicas para ingressarem no mercado de trabalho, situação que se viu favorecida com o notório abaixamento do nível de exigências para a entrada no ensino superior, no final da década de 80, provocado pela explosão do ensino superior privado e o descrédito de cursos técnicos de nível intermédio promovidos nas escolas públicas. Para se adaptar a esta radical mudança a Associação Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães - Velhos Nicolinos (AAELG-Velhos Nicolinos), alterou os seus estatutos e passou a ser a associação de TODOS os antigos estudantes do Ensino Secundário de Guimarães e com isso as Festas passaram a poder ser organizadas não apenas por estudantes do liceu mas por alunos de todos os estabelecimentos de ensino do Secundário da cidade de Guimarães. Hoje, pensando no futuro, acarinha os Jardins de infância da cidade, patrocinando o que foi chamado originalmente “O Pinheirinho” agora conhecido pelo "Cortejo do Retábulo", destinado apenas aos petizes do Pré-escolar, (com idades compreendidas entre os 3 e os 5 anos), O pedido de colaboração em 2001 de uma educadora do Jardim de Infância de St.ª Estefânia à AAELG-Velhos Nicolinos para a organização de um pequeno cortejo nicolino, depressa se transformou nesse ano num projeto que envolveu todo o Infantário. Alguns dias antes, para a preparação da manhã do dia 29 de novembro desse ano, representando os Velhos Nicolinos, João Neves, cujo filho João Óscar foi responsável pelo seu envolvimento neste projeto, pois frequentava na altura este Infantário, acompanhado pelo seu companheiro de Direção da AAELG-Velhos Nicolinos Francisco Ribeiro, fizeram uma pequena e emocionada demonstração, com os toques e o traje a preceito, na sala dos pequenotes.
No ano seguinte já foi necessário para esta demonstração o recurso ao ginásio da instituição. Nesse mesmo ano, 2002, outros estabelecimentos contactaram a AAELG-Velhos Nicolinos a pedir colaboração.
Hoje “O Cortejo do Retábulo” realiza-se pelas 10:45 horas do dia 29 de novembro e é organizado por todos os Infantários da cidade de Guimarães com a colaboração da “Comissão de Festas Nicolinas”.
Acarinhada pelos Velho Nicolinos – seus pais – a concentração de todos os grupos representantes de cada infantário, cada um acompanhado por um membro da Comissão, concretiza-se junto do largo do Município de Guimarães onde os grupos de crianças vestidas a bom rigor Nicolino, tocam com afinco o toque: 3. 2. 2. 3. 1. 3. 3. 5 e volta tudo ao início, ao repique da caixa. Depois, em desfile orientado e encabeçado pela Comissão, dirigem-se em direção à Capela de S. Nicolau no Largo da Oliveira onde são recebidos pela sua Irmandade.
Nesse local, ao som das caixas e tambores, intercalado com vivas ao Santo, realiza-se uma pequena cerimónia, concebida pelo velho Nicolino Fernando Miguel, onde é entregue ao Presidente da Comissão o “Oratório de S. Nicolau”, do qual também foi principal autor, que de seguida e em procissão o leva para a Torre dos Almadas onde é recebido e aclamado por um membro da Direção e onde ficará durante o período das Festas Nicolinas.
Com a visita da Torre pelos pequenos que o desejarem e o seu posterior dispersamento pela cidade fica anunciado o início das “Festas Nicolinas”.
A AAELG-Velhos Nicolinos apoia também os variados eventos e realizações envolvendo as crianças do 1.º ciclo (crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos). Quando solicitados os Velhos Nicolinos deslocam-se à escola para ensinar sobre as Festas e mostrar os toques das Nicolinas, normalmente no período que antecede o Pinheiro.
As crianças deliram com a sua presença. Também estas crianças, com afinco e dedicação, pegam nas suas baquetas e num ritmo perfeito sai o toque do pinheiro: 3. 2. 2. 3. 1. 3. 3. 5 e volta tudo ao início, ao repique da caixa. São estes pequenos, os grandes Nicolinos de amanhã.
*Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince. João M. Neves, MMXI