DEMANDAS CRUZADAS PELO GRAAL

(OS CAVALEIROS DA TABOPÃ)

Assim prossegue a Terra o seu caminho entre o concerto dos astros.

URBI...

Continua o nosso burgo com pequenos e grandes acontecimentos.

A meritória ideia do Orçamento Participativo foi subvertida por “estranhas formas de voto’’. Assim se desperdiça uma oportunidade única de intervir no bom governo do concelho.

Há manchas de humidade na fachada da Basílica de São Pedro e “humidades” em grandes caudais que todos os anos regressam pelo Rio de Couros que agora se pretende domar em obras de regularização e retenção, a ver vamos...

Em Guimarães querem sitiar o centro histórico. Até agora eram uns pinúsculos que se erguiam pelas nove e meia da noite. Espera-se que defendam os moradores (eu fui-o durante muitos anos, agora lá continua a minha mãe). Como é possível que um morador de idade avançada e com mobilidade reduzida, não possa, a partir de certa hora, ser deixada à porta de casa, nem de boleia, nem de táxi? Não se trata aqui de “estacionar”, mas ter “acesso” senhores!

Espera-se que o novo sistema que se está a implantar permita esse acesso, sob pena do centro histórico se esvaziar e se tornar uma sucessão de fachadas ao melhor estilo “bilhete postal” que só serve turistas e não os vimaranenses. E já agora, dêem sossego aos moradores. As pessoas têm direito ao descanso... Se querem servir os transeuntes-de-fim-de-semana façam um “copódromo” extra-muros!

... ETORBI

A nação pasma com o desfile de casos... Freeport, Portucale, os submarinos, as sucatas, a Tecnoforma, a Octapharma, a Cova da Beira, o BPP, o BPN, o BES, os vistos Gold. A promiscuidade e a corrupção imperam, como é público e notório há muito tempo.

Agora foi detido um ex-primeiro ministro, ao melhor estilo “Casa dos Segredos”, com espreitadelas entre “vidros de montra” de um campus da Justiça que ele próprio tinha mandado adaptar a partir de uns edifícios destinados a escritórios, ironia suprema! Entretanto vendemos em saldo as empresas deste país a interesses duvidosos e fundos obscuros, com esta “lógica invertida” de entregá-las a “privados” que afinal são controlados por estados como Angola e a China. Eis como as chamadas “privatizações” encobrem verdadeiras “nacionalizações-estrangeiras”... Confusos!?

O mundo segue entretanto o seu curso. Aviões Russos sobrevoam este jardim à beira mar plantado, radicais islâmicos degolam reféns, emigrantes pobres morrem no Mediterrâneo à vista da Europa, emigrantes ricos comparam comodamente os seus vistos e a senhora Merkel continua calma e calculadamente as espezinhar os mais fracos...

  

AGORA A SÉRIO

No decorrer de escavações encetadas desde o ano passado e reforçadas pelas escavadoras ao serviço da já evocada obra de regulação do caudal do Rio de Couros foram encontrados preciosos infólios e manuscritos que vieram trazer mais luz sobre o chamado Ciclo Bretão onde se inclui a mui glosada Demanda do Santo Graal e se narram as andanças do rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda. Esses fragmentos faziam parte de uma chamada “Chronica d El Rey D. Affonso, suas demandas cruzadas pelo Craaaal Santo y suas demays ventturas” atribuída a um obscuro monge-ermitão: Frei Bernardo das Dores nas Cruzes.

Pela leitura comparada (esse monge era analfabeto) dessas folhas dispersas (e quem diz persas diz caldaicas) foi possível reconstituir alguns episódios que provam à saciedade e à sociedade que o próprio Rei Afonso de envolveu na Demanda Santo Graaaal, em Cruzadas e noutras missões não menos importantes, podendo até defender-se que esse corpus literário constitua um chamado “Ciclo Vitoriano”.

D. Afonso, sabemos hoje a crer nesses escritos e nalgumas fugas ao Segredo de Justiça, instituiu quatro Ordens de Cavalaria gia cada qual, para além de pedir que encontrassem o “SANTO GRAAAAL, ou SANTO GRELO, ou lá o que é”, encarregou de uma missão. A saber:

 -ORDEM DOS CASTELÁRIOS- Lutar contra os Castelhanos

 -ORDEM DOS TEMPORÁRIOS- Ir em cruzada para libertar a Terra Santa de Jer’Azurém

 -ORDEM DOS SEMI-NÁRIOS- Conquistar a Falperra aos Marroquinos

 -ORDEM DOS BASTONÁRIOS- Buscar uma relíquia: O Dedo de São Dâmaso

Pois aqui nas Danças de São Nicolau do ano da graça do Senhor de dous mil e catorze, se evocarão em palco, de forma necessariamente sucinta, todos os acontecimentos de desenvolvimentos das... DEMANDAS CRUZADAS PELO GRAAL (OS CAVALEIRO DA TABOPÃ).

Fica, ainda, o agradecimento a todos os que tornam possível este milagre renovado ano a ano chamado “Danças de São Nicolau”: artistas, músicos, cenógrafos, escribas, técnicos... E a todos os que têm a paciência de vir assistir a este divertimento.

Bem hajam! 

Sempre por Guimarães e pela Nicolinas.

Miguel Bastos