Arquivo: O São Nicolau em Benassal-Valência-Espanha
O Galo-"Galaró" - Festa de São Nicolau
Soluções para que o mestre não passe fome Benassal (L' Alt Maestrat)
Em Benassal, a festa de São Nicolau era o dia escolhido para que
todas as crianças oferecessem um bom peru, ao professor-mestre, em
épocas em que era habitual ouvir a frase "passo mais fome que um
mestre-escola ". Depois de cair em desuso, a festa foi recuperada e,
actualmente, é uma das festas mais esperadas por todos os
"benasalenses", grandes e pequenos.
BENASSAL, GALL GALLET ANO 1968
1968, o último ano em que se realizou a festa antes de cair no esquecimento e de ser retomada posteriormente.
Originalmente,
os alunos mais velhos iam às quintas vizinhas procurar, um galo, ou um
peru, o maior que encontrassem, que adquiriam com o dinheiro que
previamente tinham arrecadado entre os companheiros. Atavam-no a uma
vara fina e larga, geralmente de
pinheiro,
de modo a pesar pouco, e passeavam-no pelas ruas. Em cada casa, os
benassalenses atavam uma fita a essa mesma vara, até que ficasse
completamente adornada. Quando as crianças acabassem de percorrer toda a
povoação, davam o presente ao professor-mestre.
A Festa de São
Nicolau servia, pois, para ressarcir o professor-mestre, ainda que
minimamente, de modo a ultrapassar a penúria económica que sofria.
Actualmente, numa época em que o professor conta com um salário digno e
há uma maior consciência dos direitos dos animais, a festa evoluiu.
Substitui-se o peru vivo por uma réplica em cartão, ao mesmo tempo que
também se incorporou outra réplica que representa um galo, fazendo honra
ao nome da festa.
A família dos alunos do 6°ano ata, à vara, a fita que rapaz previamente preparou.
Celebração manteve-se viva até 1968, ano a partir do qual caiu no
esquecimento. Em 1998, a Escola e a Associação de Pais e Alunos
recuperaram-na, adaptando-a, contudo, às necessidades actuais. Assim, a
festa que tinha tido sempre lugar no dia 6 de Dezembro, dia de São
Nicolau, dia feriado em todo o Estado Espanhol, viu a celebração
antecipada para a véspera, dia 5.
Nos dias anteriores ao 5 de
Dezembro, uns doze a catorze alunos que frequentam o 6°. Ano, preparam
as fitas que adornarão a vara: umas tiras de papel de seda de cores
muito vivas. Na manhã do grande dia, os alunos põe tudo pronto para a
celebração que terá lugar à tarde. Nessa altura encabeçam um cortejo que
passa pela povoação de Banassal, seguidos por todos os colegas em filas
de dois, desde os mais pequenos até aos alunos do 5°. Ano, que
aproveitam para aprender como farão no próximo ano.
O cortejo passa
por cada uma das casas de todos os alunos do sexto ano, onde um familiar
os espera para lhes dar a fita que cada menino preparou de antemão.
Entre cada casa, vão cantando canções populares como:
"São Nicolau da Torre, ao Domingo
Os meninos pagam-no e o mestre come-o"
Ou
"Galo, galito, um dinheirito
Galo, "galaró", um dinheirão
Nos currais dos frades
A matar cordeiros,
Que vimos de Roma
De levar a coroa
Ao glorioso São Nicolau
Uvas-passas e figos Ou o que queirais"
Quando acabam de percorrer as casas dos alunos do 6°.ano,
regressam à escola e fazem uma merenda colectiva, recordando, assim, o
grande festim que originalmente fazia o mestre com o peru que lhe haviam
oferecido.
Festa singular com similitudes noutros lugares
Toda a escola, em filas de dois, acompanha o cortejo dos alunos do 6°. Ano, cantando.
A
Festa de Benassal, se bem que se desenvolva de forma especialmente
concreta e singular, apresenta similitudes com outras que têm lugar em
Xert, Catí ou Benicarló, entre outras povoações, onde os patos, frangos
ou perus se convertem em protagonistas da Festividade de São Nicolau.
Quando
a sociedade era eminentemente rural, cada um deixava à solta as suas
aves de criação, que eram perfeitamente identificadas com algum tipo de
marca na pata. Ainda assim, no dia de São Nicolau era obrigatório
prender todos estes animais nos próprios currais, já que este era um dia
em que havia licença para recolher qualquer animal que andasse pela rua
e poder levá-lo com total impunidade.
TEXTO: Bernat Ferrer y Frigola com informações de Ximo Calvo e das Festas de Benassol, de Carles Salvador
TRADUÇÃO LIVRE: Miguel Bastos