Arquivo: Pregão de 1865

[Impresso] / J.F.M. d’ Abreu .- [Guimarães:CFN],1865(imp. Braga:Typ. da “Gazeta do Minho”).-[1] f.; 32x20 cm. Impresso s/ papel amarelo.
[Manuscrito] / J.F.M. d’ Abreu. In: [Bandos Escolásticos].-1817-1872.-f. 34- 34v.

Recitado por António José Ferreira Caldas Júnior
   
O jornal Gazeta do Minho, que naquela altura se publicava em Guimarães, em substituição do Religião e Pátria, que estava suspenso, descreveu o bando escolástico de 5 de Dezembro de  1865 nos seguintes termos:
De tarde saiu o bando, acompanhado de grande número de estudantes mascarados, que formavam o préstito de tambores, O bando, que foi recitado por o inteligente mancebo o sr. António José Ferreira Caldas Júnior, é composição do nosso amigo snr. José Ferreira Mendes de Abreu.
Como se vê, em 1865 repetiram-se o autor e o pregoeiro do ano anterior. Este foi o oitavo, e último, pregão escrito José Ferreira Mendes de Abreu (Fatinho).

BANDO ESCOLÁSTICO
RECITADO NO DIA 5 DE DEZEMBRO 1865
POR
ANTÓNIO JOSÉ FERREIRA CALDAS JÚNIOR.

O sonoro clangor da tuba ingente
Reboa já no espaço brandamente,
E, tão doce, o seu eco precursor
Nos vales repercute encantador.
Ah! surge Guimarães! alegre escuta
O faustoso sinal da festa augusta,
Que no delírio corações expande
De Nicolau no dia sempre grande,
De que tu só conservas a memória,
Com entranho esplendor e estranha glória,
Em breve, no horizonte, radiosa,
A matutina estrela luminosa,
Surgirá, como sempre, fulgurante,
Ostentando seu brilho deslumbrante;
E, por seu turno, a meiga natureza,
Para a festa tornar de mor grandeza,
Virá com seus encantos e primores
A terra encher de cândidos amores:
E tu, ò Guimarães, com voz festiva
Soltarás forte e jubiloso viva,
Saudando a festa só de filhos teus,
Que nenhuma cidade tem para os seus.
Veste, pois, tuas galas mais custosas,
E junca as ruas de purpúreas rosas,
E com entusiasmo delirante
A tenra juventude acolhe ovante,
Que, formada em vistosa cavalgada,
Em teu seio fará solene entrada,
Mostrando às belas, com sinais visíveis,
De amor sincero provas infalíveis,
Manifestas por firme documento
De verdadeiro e puro sentimento,
Numa linda maça simbolizado,
E em notas indeléveis registado.
Aqui tendes, formosas, em relevo,
Os extremos de amor, e o doce enlevo,
Que vos torna cativas, de alma e vida,
Duma paixão às vezes mal nascida!
E vós, filhas de amor, sereis descrentes?!...
Sereis, a tantas provas, indiferentes?!
Oh! não... de Nicolau o fausto dia
Sempre mereceu a vossa simpatia:
Amanhã, pois, tereis, em recompensa,
De gratidão sincera prova imensa;
Que a festa de amanhã dos estudantes
As regalias tem, que tinha dantes.
E não pense por aí casquilho insulso
Vir extremos de amor render avulso;
Não se arroje a meter o seu nariz...
No Toural ainda existe o chafariz,
Onde se aplica com rigor a pena,
Que na lei escolástica se ordena
Aos transgressores de qualquer artigo
Dum código sublime e mui antigo:
E se o progresso resolver a glória
Daquele chafariz passar à história,
Tomar-se-á o transversal caminho
Em direcção à poça do Toucinho.
Está ditada a lei, notória a festa:
A vós, colegas, cabe o mais que resta:
Fazei soar zabumbas e tambores;
Escute Guimarães e seus redores
Os sinais manifestos de alegria,
Que saúdam de Dezembro o sexto dia.
J. F. M. de Abreu

Transcrição e comentários de António Amaro das Neves
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