Arquivo: Pregão de 1864
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[[Impresso]/J.F.M. d’Abreu.-Guimarães:[CFN],1864 (imp.Typ. da “Religião e Pátria”).-[1] f.; 31x21cm. Impresso s/ papel branco.-Dois exemplares [Manuscrito] / J.F.M. d’ Abreu In: [Bandos Escolásticos]1817-1872.- f.33-33v.
Recitado por António José Ferreira Caldas Júnior |
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Para não variar, o pregão de 1864 seguiu o modelo habitual e foi escrito, pela sétima vez, por José “Fatinho” Ferreira Mendes de Abreu. Foi lido por António José Ferreira Caldas, o futuro Padre Caldas, que viria a escrever a monografia “Guimarães – Apontamentos para a sua História”. Na altura, ia a caminho dos 22 anos.
BANDO ESCOLÁSTICO
RECITADO NO DIA 5 DEZEMBRO DE 1864
por
António José Ferreira Caldas
Sócios meus, eia! jubiloso viva
Soltai alegres, e com voz festiva
Já perto vem chegando a rósea aurora,
Para vós sempre tão encantadora,
Que surgindo com risos e alegria.
As portas abrirá do excelso dia,
Que gozar muitas vezes amiúde
Não logra a estudiosa juventude:
– Dia de Nicolau, que do seu trono
Protege os filhos de quem é patrono,
Compensando as agruras duma vida,
Por trabalhos contínuos abatida.
Com um gozo inefável e risonho
De férias, o seu tão dourado sonho,
Que desfrutam em dar à festa ingente
Maior realce e brilho surpreendente!
– Escolástica festa, que a memória
Recordará com feitos de mor glória.
Exulta ò pátria, Guimarães augusta:
Da pompa o fausto e o brilho à festa ajusta,
Que vai de novo fulgurar louça
No seu programa a festa de amanhã.
– Lá quando no horizonte o louro nume
Apontar das montanhas sobre o cume.
Verás grupos de ledos estudantes
Assoberbar fogosos rocinantes,
E formando magnífico cortejo
Dar faustoso começo ao seu festejo,
Oferecerão às damas, em fineza,
A nacarada e bela camoesa,
O pomo sempre tido em mor valia,
Que, em mimos, ricas jóias desafia,
E a mente de fecundos literatos
Muitas vezes tem posto era duros tratos.
Formosas, vós, de quem a história atesta
Ser, como sois, o encanto desta festa,
Acaso conhecer podeis a fundo
O valor desse pomo rubicundo.
– Símbolo de afeições as mais provadas,
Que dissipam esperanças malogradas?
Tomai-o, e sentireis a chama ardente
Da paixão dominar-vos fortemente,
E com transportes, loucas e perdidas,
D’amor em puros gozos incendidas.
Votareis à escolástica função
Testemunhos sinceros de afeição.
Formosas, de amanhã o dia é vosso;
Da festa o privilégio é todo nosso.
Somente vós e o filho da ciência
Partilham de tão alta preeminência:
E ninguém mais está habilitado
Para figurar connosco ao vosso lado.
Ai! daquele que ousar tamanha ofensa!
Se cair no poder da turba imensa,
Do seu delito a pena não evita,
Que em tais casos é na lei prescrita.
– Vai levado, em triunfo, de charola
Em largo tanque refrescar a tola;
E se de água tomar um grande trago,
Paciência, considere como o pago
Do projecto, tão asnático, empreendido,
Que formou no toutiço escandecido.
– Se às de vila-diogo der, acaso,
Verá nas costas ir-lhe tudo raso;
E se da turba chega a ser caçado,
Tem por certo de ver-se atrapalhado,
E basta. Companheiros, só me resta
Excitar-vos o amor à vossa festa.
A honra, o dever e a glória enfim, vos chama,
Manifestai ao mundo a vossa fama.
Os ecos do tambor altissonante
Fazei reproduzir. Avante! avante!
E briosos dizei ao universo:
Da festa nossa o “preço cabe em verso”.
J. F. M. de Abreu
Transcrição e comentários de António Amaro das Neves
Publicado originalmente em http://araduca.blogspot.pt/
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