Arquivo: Pregão de 1862
 
 
   
     
      |  | [Manuscrito]/J.F.M. d’ AbreuIn: [Bandos Escolásticos].-1817-1872.- f.31-31
 
 Recitado por Domingos Ribeiro da Costa Sampaio
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Em 1861 não se realizaram as festas dos estudantes de Guimarães a S. Nicolau, devido à morte do rei D. Pedro V no dia 11 de Novembro daquele ano.
 
As festas regressaram no ano seguinte, tendo o pregão o mesmo autor e o mesmo pregoeiro do ano de 1860 (J. F. Mendes de Abreu e Domingos Ribeiro da Costa Sampaio). Foi impresso na Tipografia do jornal Religião e Pátria, que aproveitou a composição tipográfica para o publicar na sua edição de 11 de Dezembro.
 
 
 
BANDO ESCOLÁSTICO 
 
RECITADO NO DIA 5 DE DEZEMBRO DE 1862
 
POR
 
Domingos Ribeiro da Costa Sampaio.
 
 
 
Perdera Lícia o mais querido filho
 
Que à sua coroa dava imenso brilho,
 
– A jóia de seu trono valiosa,
 
E dos régios jardins a for mimosa.
 
O rei magnânimo de reis modelo,
 
Amante do seu povo com desvelo,
 
Que às artes e às ciências dispensara
 
O seu amor e a protecção preclara,
 
– Verdadeiro ornamento da virtude,
 
Ao túmulo desceu na juventude.
 
Era justo que os filhos da ciência
 
Respeitassem do mérito a excelência
 
Do rei, que tantas páginas de glória
 
Bem gravadas deixou na luza história,
 
E de todos se fez benquisto e amado...
 
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Mas cesse a triste ideia do passado!...
 
Cessem dores cruéis e o justo pranto;
 
Cruéis lembranças que magoam tanto!
 
Que já lá no horizonte nova estrela
 
Se vai mostrando radiosa e bela.
 
Já se arreiam ginetes espumantes;
 
Ondeiam as bandeiras triunfantes:
 
E os hinos festivais e de alegria
 
Saúdam de Nicolau o fausto dia.
 
Amanhã se verá raiar pomposo
 
Dia solene de inefável gozo;
 
Alerta, Guimarães, embraça ovante
 
O teu aurífero escudo rutilante:
 
Veste as galas da festa mais vistosas;
 
Adorna a fronte de purpúreas rosas,
 
E vem ter parte nos folgares ledos,
 
Airosas danças, infantis brinquedos,
 
Que nobres filhos teus primando na arte
 
Contentes mostrarão por toda a parte,
 
Com que às damas o preito renderão
 
Do terno e sempre firme coração,
 
Simbolizado na modesta oferenda
 
De amor sincero valiosa prenda;
 
– Louras castanhas, carminados pomos –
 
Havendo em troco dum sorrir assomos,
 
Companheiros fiéis da simpatia,
 
Manifestos com toda a bizarria.
 
Mas não pense por aí qualquer janota,
 
Figure embora de luzida bota,
 
Seja da moda mesmo um figurino.
 
Em ter obrado com prudência e tino.
 
Se amanhã com o estudante encaretado
 
Vier por graça todo empavonado
 
Figurar na escolástica função: –
 
Quer seja de faceto ou de pimpão.
 
Será loucura…cuide no que digo;
 
Pois tomará decerto por castigo
 
No tanque do Toural um banho fresco,
 
Que em Dezembro será não mau refresco.
 
Não pense em resistir, em vão se empenha;
 
Então a coisa é séria; – temos lenha!!!
 
Não lhe vale ser mesmo um parvalheira
 
Se ousado se arrojar a tal asneira,
 
Já desde longas eras caprichosa
 
A nobre mocidade estudiosa
 
Timbra por serem com respeito ilesos,
 
Seus foros e direitos indefesos.
 
Está ditada a lei, somente resta
 
Avante anunciar a nossa festa.
 
Rufem tambores, zabumbas soem,
 
E vigorosos pelo espaço voem
 
Os ecos triunfais altissonantes:
 
Escutem-nos os povos mais distantes:
 
Haja deles notícia em todo mundo,
 
Até nas regiões do mar profundo.
 
J. F. M. de Abreu
 
 
 
Transcrição e comentários de António Amaro das Neves 
 
 
  Publicado originalmente em http://araduca.blogspot.pt/ 
  
 
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