Arquivo: Pregão de 1856
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Pregão Escolástico [Impresso]/V. de Pindella Guimarães: [CFN], 1856 (imp. Typ. de Francisco José Monteiro)[1] f.; 21x20 cm Impresso s/papel rosa.-Existem mais três exemplares em papel azul claro, rosa e amarelo. Pregão Escolástico: 1856 [Manuscrito]/Visconde de Pindella 1856.-[2]p. In: [Bandos Escolásticos] [Manuscrito].-1817-1872.-f.26-26v.
Recitado por António Zeferino Moreira de Sá |
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O pregão de 1856 foi o sexto que escreveu João Machado Pinheiro de Melo, nesta altura já elevado à condição de Visconde de Pindela. Foi recitado por António Zeferino Moreira de Sá. Glosa os temas habitualmente tratados nestes textos, que ainda mantinham um carácter intemporal, por ausência de referências a assuntos do quotidiano ou da vida política.
PREGÃO ESCOLÁSTICO
RECITADO NO DIA 5 DE DEZEMBRO DE 1856
POR
António Zeferino Moreira de Sá.
Guimarães, minha pátria e meti encanto!
Que terra pode haver que valha tanto?
Que possa mais prazer, mimos soltar,
Contigo amanhã rivalizar?!
Tu, que excedes em graça, em gentileza,
De Roma o carnaval ou de Veneza,
Surge, surge amanhã bela e donosa,
Qual em mago jardim fragrante rosa.
Qual em límpido céu meiga estrelinha,
Qual na selva a trinar doce avezinha;
Cobre mais uma vez pomposo manto,
Guimarães, minha pátria e meu encanto!
Dos filhos de Minerva o fausto dia
– Aquele que de há muito lhes sorria
Entre as lucubrações dum ano inteiro
Sobre o Lexicon ou sobre o tinteiro
A tirar, a escrever nunca findados,
Rebeldes e fatais significados –
Vai de novo esquecer, entre doçuras,
Todas essas tão negras amarguras;
Esparzindo o prazer, que o peito afaga,
Vai ser o galardão, o prémio, a paga;
Pois todo o que não for das ciências filho
À função dar não pode esmalte e brilho,
E coitado do que se ousasse a tanto!
Que no dia sem par do nosso Santo
Viesse, a taralhão, meter nariz!...
Que lá tem o Toural um chafariz
Para justa punição, terror de ousados…
Para tornar nossos foros respeitados.
Nem valem de janota os pergaminhos,
Ter soberbos cavalos, ter carrinhos,
Ou a lama pisar no mor tormento
Ao ver sujo da bota o polimento,
Nem, deixando o balcão em dia santo,
Ruas, praças correr de esquina em canto,
Para que possas entrar na festa honrosa
Da nobre juventude, esperançosa.
E tu, filha do amor, enlevo de alma,
Da função de amanhã terás a palma;
Terás soberbo trono em nossos peitos,
E pura adoração, cultos, respeitos,
E tudo quanto pode um peito amante
Em transportes d’amor dar delirante
E quando o filho de Minerva airosa
Alegre te ofertar maçã formosa,
Dizei quanto podeis num terno olhar;
Que é justo com amor amora pagar
E tu que já passaste a quadra além
Da vida do prazer, e para quem
Da fama os clarins já não tem vozes
Castanhas hás-de ter, hás-de ter nozes
Para com elas matar dura lembrança.
Recordando o passado, enchendo a pança,
Criadinha de sala, esperta e viva,
Da agulha e do dedal triste cativa,
Amanhã na janela repimpada,
Também maçã terás menos corada;
Que o dia do prazer e de alegria
Não tolerará pesar nem tirania;
Pois seja rica, ou nobre, ou só plebeia,
Sendo nova e gentil, não sendo feia,
Pode amanhã gozar toda vaidosa,
Direito que lhe dá, o ser formosa.
Que posso mais dizer? Uma por uma
Às festas d’amanhã?.. Oh! basta em suma
Dizer “Que de venturas rodeado,
Guimarães ficará maravilhado”.
E vós, ò sócios meus, na honrosa lide
Ao tambor, ao tambor, outra vez ide.
Lançai alegres sons por esses ares,
Com eles acordai a terra, os mares
Que possa em toda a parte este Pregão
Altivo anunciar nossa função.
V. de Pindela
Transcrição e comentários de António Amaro das Neves
Publicado originalmente em http://araduca.blogspot.pt/
Um blogue de
António Amaro das Neves
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