Arquivo: Pregão de 1851

Bando Escolástico [Impresso]/J.M. Pinheiro.-[Guimarães: CFN],1851(imp. Porto: Typographia Commercial Portuense).-[1] f.; 31x32 cm
Impresso s/ papel amarelo torrado.
Existem mais dois exemplares em papel azul escuro.
Bando escolástico: 1851 [Manuscrito] / J. M. Pinheiro In: [Bandos Escolásticos] [Manuscrito].- 1817-1872 .- f.22 -22 v.

Recitado por Sebastião da Costa Vieira Leite 

   
Em 1851, repetiram-se o autor e o recitador dos dois anos anteriores. Este é o quinto bando escrito por João Machado Pinheiro (Pindela), e não seria o último, e o terceiro declamado por Sebastião da Costa Leite.

Pregão Escolástico
Recitado por Sebastião da Costa Leite
NO DIA 5 DE DEZEMBRO DE 1851.

Ah! surge, Guimarães! de novo à vida
Vove, volve outra vez, Pátria querida;
Vem nos gozos dum dia esquecer tantos
De dores, de sofrer, do amargos prantos.
Ah! surge, Guimarães, que está chegado
Dia de Nicolau tão desejado,
Que amanhã raiará risonho e ledo,
Votado ao prazer, dado ao folguedo.

Ah! não só, Guimarães, te brinda a terra,
Também quanto de bum o Empíreo encerra:
Calíope, não vês vir a seus filhos
Estro novo ditar e novos brilhos,
– Essa da poesia astro luzente
Que prende os corações tão brandamente?
Tudo em volta de nós vos pressagia,
Que amanhã reinará fausta alegria:
Vereis danças louçãs e exibições...
Que chistes ouvireis de mil ratões?...

Mas não penses (oh! não) que o nosso dia
É pera todos geral na grão folia.
Valete namorante, ou chinfrim oco,
Que leva a cada canto o amante soco,
– Patrulha noite e dia sempre certa,
Que faz andar o pai de olhinho alerta –
Não meta cá nariz (bem alto o digo)
Que o tanque do Toural tem para castigo.

E vós, mimoso dom mandado à terra
Como para quebrar fúrias da guerra,
Vós, em frente de quem (oh! força rara!)
O Marte mais feroz trepida e pára,
Formosas, amanhã vereis prostrados
– Ante vós, ante amor embriagados -
Os filhos de Minerva (que ò estudante
Vassalagem só presta à sua amante);
E por entra mil falas extremosas,
Mil requebros de amor, vereis, formosas,
Ofertar-vos o pomo lindo e liso,
Qual o que Eva tentou no Paraíso.
Formosas, amanhã vinde portanto
De mil votos de amor gozar o encanto.
Vinde ouvir um = sou teu = d’alma nascido
Com que força e afã é repetido.

E tu, ò governante austera e dura,
Antídoto cruel contra a ternura,
Não julgues que amanhã possas ainda
A rouca proibir – esbelta e linda –
Da janela aparecer – toda puxada –
A maçã receber mais descorada.
Repara que, se fores indulgente,
De castanhas terás também presente;
E se tirana, então bernarda temos,
E protocolos cá não os sofremos;
Que o dia de amanhã tem por divisa
Liberdade, e a paz por só baliza.

E vós, ò sócios meus, única esperança
Da Pátria a quem a dor definha e cansa,
Avante! anunciai nesses tambores
O dia de amanhã, dia de amores;
E a fama, com cem bocas pregoeira,
Diga ao mar, ao espaço, à terra inteira
Em voz altissonante e o mais festiva:
= Oh! viva Nicolau! Guimarães viva! =
                                                               J. M. Pinheiro

Transcrição e comentários de António Amaro das Neves
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