O Cónego José Maria Gomes, numa caricatura de José de Meyra de 1905.
Da colecção da Sociedade Martins Sarmento.
O impulsionador do Liceu
O Cónego José Maria Gomes distinguiu-se pelo envolvimento nos ideais do republicanismo.
Na edição de 17 de Agosto de 1920 d'O Comércio de Guimarães, a notícia da morte do Cónego José Maria Gomes, ocorrida no dia 12 desse mês, está inscrita uma espécie de elogio fúnebre àquele vulto da cultura vimaranense. "Irmão de Albino Gomes, major médico de infantaria 29, e do reverendo Manuel Gomes, pároco de Azurém", "De há muito o sabíamos preso ao leito da dor, mas a sua inteligência continuava lúcida e brilhante. Os seus escritos eram sempre todos com interesse sabendo imprimir-lhes uma originalidade só própria do seu espírito culto. O Cónego José Maria Gomes, que em tempos militou activamente na política, era hoje um desiludido e bem inten-cionado. Está na lembrança de toda a defesa desassombrada que tomou quando dos últimos acontecimentos, em que a nossa esquadra policial regurgitava de prisioneiros políticos". Deve-se ao Cónego José Maria Gomes "não terem tomado outro aspecto os acontecimentos de então". "Era um bem intencionado. Não somos suspeitos no assunto, tanto mais que politicamente éramos adversos, mas não podemos de maneira alguma deixar de prestar culto fervoroso ao exce-lente carácter e espírito que baixa ao túmulo, aos 59 anos de idade".
"Professor distintíssimo do nosso liceu, publicista e orador sacro, o Cónego José Maria Gomes é dos homens que fazem falta à Nação. Guimarães deve-Ihe gratidão, pois, apesar de ser natural de Vila Verde, amava estranhamente esta Cidade, e conseguiu, quando deputado, que o Liceu Nacional fosse elevado a categoria de Central". Os restos mortais do Cónego José Maria Gomes foram transportados da Igreja da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira para o cemitério de Urgezes, "na carreta dos bombeiros voluntários de Guimarães ", sendo o préstito ladeado de estudantes. A referência ao Cónego José Maria Gomes está inscrita no Largo em frente Câmara Municipal de Guimarães. Uma inscrição na toponímia vimaranense que se verifica há 82 anos e que presta homenagem a um homem que defendeu os interesses do Município. O seu nome associado à criação do Liceu em Guimarães e que foi inicialmente instalado no edifício onde actualmente funcionam os Paços do Concelho. Na acta da vereação de 12 de Janeiro de 1924 foi aprovada a proposta apresentada pelo Vereador Zeferino José Ribeiro Cardoso. "O Largo fronteiro ao Liceu Martins Sarmento, conhecido pelo Largo do Liceu, sem outro significado que a existência do mesmo liceu nessa localidade e tendo sido um dos pugnadores da sua existência e elevação a categoria de Liceu Central, o falecido Cónego José Maria Gomes, proponho: que ao referido Largo seja dado o nome de Largo Cónego José Maria Gomes, prestando assim homenagem àquele cidadão que em vida foi um velho amigo de Guimarães. Aprovada por unanimidade e publiquem-se editais para conhecimento de todos, sendo esta deliberação de execução imediata".
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O Cónego José Maria Gomes era conhecido pelo seu bom humor e pela língua solta. Dele se contam algumas anedotas célebres. Uma delas tem sido reproduzida vezes sem conta, sem referência ao seu autor. Ocorreu em 1901, aquando do primeiro julgamento do processo do homicídio de Francisco Agra, no qual Afonso Costa, que seria uma das figuras mais marcantes da Primeira República, defendeu acusado, Júlio de Campos, que viria a ser absolvido (e, mais tarde, inocentado, aquando da condenação do Antoninho de Segade). Conta-se como se segue, pela pena de Raul Brandão (in O Vale de Josafat, vol. III das Memórias do escritor):
No julgamento de Júlio de Campos, em Guimarães, quis enfrentar-se com o papudo e irónico cónego José Maria Gomes, que tinha fama de piadista e parecia um padre do tempo do Bocage. Ele era advogado, o outro testemunha. E o Afonso Costa, a certa altura do interrogatório, espicaçou-o:
– Aí está o senhor a meter uma no cravo, outra na ferradura...
Resposta imediata, com um sorriso ainda por cima:
– É que o senhor doutor não está com o pé quieto!
Fonte:http://araduca.blogspot.pt/2010/05/uma-no-cravo-outra-na-ferradura_10.html