Convém antes de mais lembrar a todos que estas Festas não nascem fruto do acaso e que não são de geração espontânea, são isso sim fruto do esforço continuado de muitas gerações de devotos a S. Nicolau e de um conjunto de estudantes Vimaranenses que nunca a deixaram morrer. A Festa, a Tradição que lhe está associada, os seus usos e costumes, pontuados aqui e ali por um ou outro excesso característico da juventude tem, de certa forma tido um sentido correto, o sentido de se integrarem como um todo no panorama cultural da cidade ao contrário do que já aconteceu em foram apenas as Festas de uma parte dos Estudantes de Guimarães, aqueles que tinham acesso às carreiras académicas. Assim já não acontece nos dias de hoje com a massificação e a universalização do ensino. No entanto continua a pontificar por razões de proximidade histórica a participação do Antigo Liceu Nacional de Guimarães, atual Escola Secundária Martins Sarmento. Entretanto num passado já algo remoto, meados dos anos 90 houve uma tímida tentativa de integração da Universidade do Minho, que não resultou, pena foi que pelo menos na questão do traje essa integração não tivesse sido uma realidade. Mas a força dos números provou então ser inultrapassável e estou convencido que mais algum tempo terá que se interpor para se voltar à carga com efetividade de resultados nesta matéria. Escrevo este texto numa despectiva, sempre e claramente individual de que alguns tem a sensação de que as Festas estão ou atravessam algum declínio no seu fulgor. A esse argumento eu contraponho desde sempre um outro que me parece bem mais sensato. Cada edição das Festa tem a sua especificidade, os seus intérpretes e o ambiente em que se desenrola. Lembro-me aqui das minhas, enquanto membro da Comissão de Festas de 1984, e onde aí sim, se sentia uma certa falência em alguns números das Festas. Basta dizer que foram as Festas onde pela ultima vez se levou a efeito o Baile Nicolino no Liceu, das ultimas, certo que a penúltima onde as Maçãzinhas se fizeram no Toural, e onde só para citar um exemplo mais do que significativo, não se realizaram as Danças de S. Nicolau. No entanto, se esses foram anos de plano inclinado para a participação e por vezes para a dignificação das Festas é certo também que foram nesses anos que algumas das Tertúlias e Grupos que são um dos esteios onde assenta a Festa e Tradição Nicolina, se revelaram na sua plenitude e tiveram de tomar as rédeas das Festas de forma a contornar momentos menos bons e de menos fulgor. Assim foi, e certamente assim será sempre, porque enquanto subsistir na raiz e na alma de tantos Vimaranenses esta vontade de festejar e celebrar S. Nicolau a Festa não morrerá jamais. Melhor exemplo não há do que este em que nos encontramos, numa primeira representação das Danças de S.Nicolau no recém-inaugurado Centro Cultural de Vila Flor. Num trajeto, que no meu caso pessoal inclui paragem no saudoso Teatro Jordão (de quem os Nicolinos foram sempre, defensores), do Cinema S. Mamede, do Auditório da Universidade do Minho, todos palcos que evocam saudade e continuidade de um trabalho que frutificou. Se nem tudo são certezas, pelo menos esta temos, As Festas Nicolinas, estão bem, de saúde com pujança e com gente que as defenda. Com projetos (Monumento ao Nicolino, elevação a Património Oral e Imaterial da Humanidade) e certamente com um Futuro risonho e que lhe saiba dar relevo aquilo que primordialmente tem feito o seu sucesso. A sua espontaneidade, o seu enraizamento popular crescente e os valores que sempre tem defendido. Para terminar e porque não só é devido, mas é profundamente justo devo aqui, e suponho que deveremos doravante fazê-lo sempre, lembrar o exemplo dos enormes Nicolinos e no meu caso Amigos, Hélder Rocha e Emídio Guerreiro que, jovens que sempre souberam ser de coração, tanto nos deram e ensinaram, nestes anos em que partilharam connosco aquilo que a vida tem de melhor, a Amizade, o Convívio e o Amor pelas causas, todas as causas, as grandes como as pequenas, desde que justas. Saudade.
Ricardo Gonçalves
Danças de S.Nicolau 2005