Arquivo: Nicolinas - O Filme e os Artistas

O FILME E OS ARTISTAS

Fui ver o documentário sobre as Nicolinas do Rodrigo Areias, e apetece-me, não só escrever sobre o que vi, mas sobretudo sobre a realidade que ali é retratada. Não sou crítico de cinema muito menos de primeiras obras cujo valor transcende em muito a própria mensagem que pretendem transmitir, quer pelo empenho, pelo esforço, quer muitas vezes pela força própria que contém o trabalho de todos aqueles que pretendem conseguir um determinado espaço próprio na arte que escolheram seguir. Vi o filme e gostei. Formalmente acho que esteve muito bem e a sequência e a ideia de ver as Festas Nicolinas pelo prisma do trabalho da Comissão de Festas pareceu-me também uma boa ideia. O filme resulta e mostra de facto uma realidade que poucos conhecem das Festas, o que devia ser o funcionamento da Comissão de Festas. Mas se escrevo não é somente por ter gostado do filme, é para dizer que, como em tantas outras realidades este não é o meu filme. E não só não o meu como o de muitos Nicolinos, que não se revêm em muitas das práticas que ali se desnudam ao escrutínio público, o que, obviamente não tem qualquer importância para a minha apreciação estética do filme em si. O que não gosto nem posso gostar é de ver que as Comissões de Festas se deixam enredar em práticas que não são nem nunca foram tradicionais e em "Praxes!?!" que não se enquadram minimamente no Espírito Nicolino. Mais concretamente, o tipo de atividades internas de uma qualquer Comissão de Festas, os seus códigos, os seus ritos e as suas práticas, não podem nem devem passar por "tradição" ou "praxe", e muito menos serem acompanhadas por elementos estranhos ao trabalho de cada Comissão. Eu estive lá, também tivemos os nossos exageros, próprios da idade, de uma idade de afirmação, de uma idade onde o sentimento de pertença a um grupo é às vezes mais forte do que a nossa própria forma de ser. Quantas vezes nos deixamos levar pelos outros sem pensar no que estamos a fazer quando estamos no fim da adolescência. Quantas vezes nessa fase da vida admiramos o que anos passados achamos estúpido e sensaborão. Não sou nem nunca fui um falso moralista, a realidade está aí, para ser vivida e apreendida. O que me custa é a triste conclusão de que há pessoas que promovem, instigam e endeusam este tipo de comportamento. O excesso deve sempre ser a exceção e nunca a regra. E se há regras que eu conheça destas Festas e das Comissões de Festas (cujo facto de ter nelas participado não me confere direito nem estatuto especial, nem a mim nem a ninguém), dizia, se há regras uma pelo menos ficou-me. A Comissão das Festas Nicolinas é autónoma, é exclusivamente dos Novos e de mais ninguém, por mais saudades que tenha. Ainda hoje os meus companheiros das Comissões de Festas são meus amigos, e serão, porque soubemos sempre estar de bem uns com os outros. E isso, meus amigos, não precisamos os de então, como não precisam de certeza os de hoje, que os ensinem nem que nos guiem, e certamente menos se os guias não souberem qual é o rumo certo.

Como diria um qualquer crítico de cinema, o filme é um bom filme, a história é que está mal contada!!!!!

Ricardo Gonçalves 2002

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