Arquivo: Estudantes e Futricas
Aos “Futricas” se referem em abundância os Pregões Escolásticos. E quando dizem “Futricas”, os Estudantes querem designar invariavelmente os seus rivais, os não estudantes, que eram normalmente os caixeiros. Esta é mais uma originalidade nicolina, já que na gíria académica coimbrã, de onde o termo é importado, futrica era todo aquele que não pertencia à “classe” dos Estudantes.
É que, no passado, nem os Estudantes podiam com os caixeiros nem estes com os Estudantes. E isso dever-se-ia a alguma inveja da condição de Estudante, por parte dos caixeiros, e à convicção de uma superioridade deficientemente assumida, por parte dos Estudantes.
Os Futricas estavam mesmo proibidos de participar nas Festas, principalmente, nas “Maçãzinhas”, no galanteio às Damas. Eles eram os namorados naturais das “Tricanas”, embora os Estudantes as disputassem e namorassem também, mas nunca poderiam os Futricas atrever-se, a aproximar-se das Damas, que se destinavam apenas aos Estudantes.
O castigo que esperava os transgressores intrometidos era a agressão à mocada ou ainda, o famoso banho no Chafariz do Toural a que tantas vezes foram os Futricas sujeitos.
Aos Futricas, durante as Festas, aconselhavam os Estudantes que se metessem em casa ou fossem para a tasca jogar à bisca...
A prova de que era uso nos tempos de outrora, ameaçar o “caixeiro” (e às vezes levar à prática) com um involuntário mergulho nas frescas águas do Chafariz do Toural por forma a afastá-los das Festas que não eram suas e nas quais lhes estava expressamente vedado participar, é por exemplo, o eloquente excerto do Pregão de 2001:
“(...)
Futricas, ouvi-me, que eu por aqui não fico,
Porei a vossa tola em forma de penico.
Se eu ouço um “ai”, se levantais o nariz,
Acabareis molhados no velho chafariz!
(...)”