Vem a tradição vimaranense das Festas
Nicolinas de muitos atrasados tempos. Exactamente não se sabe mesmo de
quando. Mas documentos conhecidos dão-nas do ano de 1662, já que data
desde a fundação da Confraria de S. Nicolau que tomou a designação de
Irmandade de S. Nicolau em 1691, existindo ainda. Antes, segundo o
historiador João de Meira, os estudantes de Guimarães acolhiam-se à
protecção da Virgem. Afinal, tudo aparenta ter principiado com a herança
atribuída por um Cónego da Real Colegiada aos seus coreiros e alunos,
legando-lhes os "dízimos de Azurém", quaisquer que fossem as aulas
versadas e desde que filiados estivessem na referida Irmandade de S.
Nicolau.
Com origens tão remotas, não admira
que as actuais festas escolásticas de Guimarães não correspondam
exactamente às daqueles tempos e nem todo o seu alongado programa,
também, as reflicta tal-qualmente. Por exemplo, o Pinheiro está, ao
presente, no cume dos festejos, quando no passado era só seu anunciador.
Nele se juntam, agora, novos e velhos para folgarem na noite da sua
chegada à cidade. Não entramos, contudo, na sua pormenorização para
evitar que lhe detioremos ainda mais a mística actual...
Inegavelmente,
a noite do Pinheiro pertence, nos tempos actuais, tanto a novos como a
velhos nicolinos. Se bem ou se mal, tal evolução está arreigada, não
sendo possível admitir-lhe qualquer retorno às origens. Quanto aos
restantes vários números, como Posses, Magusto, Pregão e Maçãzinhas
repetem ainda, com grandiosidade maior ou menor exclusivamente a
responsabilidade dos seus exactos utentes. Um número, porém, estes
esqueceram, não interessando esmiuçar os motivos: as Danças, estas estão
novamente aí, neste ano, para regalo dos velhos e como curiosidade para
os novos. Ao observá-las, com os olhos de bem ver, todos em conjunto
devem concluir dos muitos esforços que necessariamente se consumaram
para de novo as concretizar.
As Danças de antanho começavam por ser apresentadas na praça pública, depois percorriam casas dos maiorais da terra, para se
exibirem,
finalmente, no palco de um teatro. Em 1986, a apresentação das Danças,
num espectáculo único, ajusta-se logicamente aos tempos decorrentes, mas
atestamo-lhes, aqui, uma oportunidade que alguns desconhecem.
No ano
de 1954, um grupo de velhos nicolinos, que não nomeamos com receio da
memória nos trair na lembrança de algum, juntaram-se para como agora,
fazer ressurgir este número. Compilou-se um texto com parcelas de
algumas das danças do passada que foi possível recolher e usando as
harmonias musicais do seu tempo. A iniciativa teve sucesso, mas, acima
de mais, estimulou aqueles que a levaram a efeito e alguns mais, à
conjugação de ideais que depois concretizou, em 1961, a ASSOCIAÇÃO DOS
ANTIGOS ESTUDANTES DO LICEU DE GUIMARÃES, agora a festejar as suas Bodas
de Prata.
Participantes em ambas as iniciativas que relembramos,
votos fazemos para que destas Danças de 1986 algo resulte capaz de
provocar aquela participada continuidade das tradições nicolinas de que a
Associação em festa é estatutariamente o garante.
"A propósito das DANÇAS de 1986"
Nov./86
Hélder Rocha