As Danças de São Nicolau iniciam uma
relação que se pretende duradoura com o Centro Cultural Vila Flor. É
curioso que as Danças de São Nicolau "regressem" a um local integrado
num palácio, o palácio de Vila Flor, onde há 2 séculos atrás foram
provavelmente representadas...já que era costume representar estas
funções nos salões aristocráticos vimaranenses. É significativo, ainda,
que "regressem" a um local que fica paredes meias com o mítico Teatro
Jordão que tanto marcou estes académicos espetáculos nas últimas décadas
do derradeiro século.
As Danças de São Nicolau não são as mesmas de
há 2 séculos atrás, nem as mesmas de há décadas atrás. O "modelo" nunca
foi o mesmo ao longo dos anos, as Danças não são estáticas, caso
contrário estiolariam. Hoje é deste modo que os Velhos Nicolinos fazem
as Danças, é simplesmente a nossa maneira, digo-o como um dos principais
responsáveis dos últimos anos. Descontando os compreensíveis
saudosismos, afirmam-se, todavia, com o mesmo espírito: sob o signo
sagrado, mas também profano, do senhor São Nicolau, de modo académico,
criticam, expõem os podres, procurando fazer rir.
O riso é um sinal de superior inteligência. O humor, não a piada alarve, é uma das marcas distintivas da humanidade.
Desde
o encerramento do Teatro Jordão que Guimarães vivia amputada, sem uma
sala de espetáculos condigna. Não era o Auditório da Universidade do
Minho que, embora tentasse disfarçá-lo, podia cumprir essa função. A
construção deste Centro Cultural é, portanto, motivo de regozijo.
O
vultuoso investimento envolvido neste novo espaço é, neste caso,
realmente um "investimento". A cultura também é para comer! Embora haja
quem assim não pense, a fria perspetival economicista, a cultura é um
bem de primeira necessidade.
Uma cidade Património Cultural da
Humanidade, tem que apostar no Património, na Cultura e na Humanidade.
Tem que oferecer, portanto, equipamentos condignos e políticas
condizentes. Deve apostar nas artes: na literatura, nas artes plásticas,
na música. Uma cidade com estas características, pela Europa fora,
promove eventos e gera movimentos, produções artísticas, exposições.
Quando é que Guimarães aposta a sério na música, com grupos, músicos,
orquestras locais? Isso sim, faria a diferença. A cultura alimenta o
espírito, faz-nos humanos.
As Danças de São Nicolau constituem um
espetáculo sui generis, verdadeiramente "académico", amador, antes de
tudo. Mantêm o espírito e a intenção original: recolher fundos, seja
para a construção da Capela de São Nicolau, seja para a sua
reconstrução, depois de ter sido ignominiosamente demolida, seja, ainda,
por hoje, para a ereção do Monumento ao Nicolino.
Não somos
profissionais, somos 200% amadores na verdadeira aceção da palavra,
porque temos genuíno amor à "arte". Claro que a nossa "arte" não será
elevada, mas pomos tudo o que sabemos aqui. Pedimos, portanto, desculpa
pela falta de talento, de ensaios e de "profissionalismo". Mas
continuamos sempre por amor a São Nicolau e por amor a Guimarães!
Sim, só uns poucos neste mundo podem ser Nicolinos e Vimaranenses, não é para todos...