Amigo Óscar:
Aqui te sentimos vivo, vivo ainda, vivo sempre entre os Nicolinos!
Aqui damos a público, sem permissão tua mas por vontade nossa, o papel transcendente do teu esforço para que, há trinta anos, na nossa companhia; cometêssemos o arrojo de fazer ressurgir nas nossas Festas a bela Tradição das Danças de S. Nicolau!
Sem o teu entusiasmo e a tua música nada seria feito; sem a tua obstinação e exigência este espetáculo, que hoje marca a Cidade, por lhe merecer o carinho de 30 anos, teria ficado no mundo das intenções: foi tua a marca inexcedível dos primeiros passos, foi tua a música do arranque, ainda hoje trauteada por nicolinos de ouvido duro que ressurgem como Afonsos e Mumas, truões e lavradores, pajens e caretos, gente nossa numa revista atual e crítica, uma boa revista à portuguesa de que se esgotam as bilheteiras!
Tu deste aos Trovadores do Cano a coragem de acompanharem fraternalmente os Nicolinos nesta nossa aventura e de o fazerem com tal dignidade e entusiasmo que são dela igualmente indissociáveis.
Para quê recordar inevitáveis desencontros e questiúnculas derivadas do esforço de construção de uma obra se ela assim se nos apresenta honrosamente duradoira e candidata a perdurar no tempo pela mão, pela vontade e pelo esforço daqueles que vieram depois levantar a mesma bandeira, a nossa, a nicolina?
Breve nos cansamos e passamos a assistentes. Mas sempre do mesmo lado, sem abandono das trincheiras cavadas na nossa geração para o futuro, hoje ocupadas por jovens guerreiros, imbuídos do mesmo entusiasmo nosso, na mesma senda, este esforço de vivificar as Tradições, elas tão ricas no norte e mais em Guimarães.
Vês tu como é lindo?
Vês que valeu a pena?
Depois partimos para outra e de umas pobres letras para um rico Hino soubeste tu dar-lhe forma e beleza no apuro de uma composição que nos traz as vozes a pendurarem-se na alma: tu o ouviste interpretado pelo Coro da Colegiada na religiosidade de nossa Festa, ainda em vida e, já longe e tão perto, cantado pelo Coro de "O Convívio" para regalo dos ouvidos dos crentes e dos que acreditam ser a Arte divina de per si entre os homens!
Hino lindo, harmonia pura que as palavras perturbam, música que vem para que as almas dos vivos comuniquem entre si e entre eles se faça o milagre da Paz; música que se faz no Homem afirmação de Deus, o Deus que nos permite desenhar na vida, por entre trabalhos e amarguras, sucessos e insucessos, o nosso próprio espaço!
Tu soubeste transmitir a mensagem, uma mensagem bem marcada no teu viver de trabalhador, trabalhador- estudante, comerciante, professor, escultor, músico e cidadão!
Nunca esqueceste Mondim mas foi a Guimarães que deste o Sonho e o teu esforço continuado; foi nela que a tua cidadania melhorou a cidade!
À tua teimosia, à tua modéstia de não te reconheceres Nicolino, respondo eu que o és, de facto e de direito, abonado de matrículas no Liceu que não frequentaste mas onde fizeste os exames essenciais e o serias sempre, de qualquer modo e mesmo contrariado, quando nós aqui e publicamente te dizemos que és dos nossos, que és Nicolino e para mais eleito: viveste a nossa Festa e o nosso tempo e decerto Sampaio e a Senhora Aninhas te receberam no grande espaço onde nascem os trovões que em vida nos alegram as Noites do Pinheiro!
Óscar: continuam as Danças!
Os Nicolinos e os Trovadores sabem que estás presente!
A Meireles Graça, Novembro, 2002
Está o Castelo de Guimarães sob administração provisória do Truão, o fiel Bobo da Corte, que vai arrumando a casa, já que pelo novo Código das Leis de Trabalho, se institui a multifuncionalidade de cada assalariado, assim, cabe-lhe também a ele a limpeza das Reais Instalações. Espera-se a todo o momento que cheguem os Monarcas Reinantes para dar inicio ao espetáculo.