Arquivo: Danças de 1986
Amigos ! Que merda esta...
Vamos ao segundo ensaio!
0 argumento não presta...
Deu a banda o badagaio!
Mandai entrar o Afonso...
A Muma para este lado...
O maralhal do responso...
O ponto ali enterrado!
As danças são mesmo assim
Ensaiadas duma vez...
Sai mais um copo p'ra mim
E bebe tu um de três!
A bilheteira esgotou
Mas decerto que a têvê
Já os comboios filmou
E a transmissão não se vê...
Ó vós que aos bombos estais
Preparai a Zabumbada
Enxotai esses pardais
Que vai grande a passarada...
E vede vós, figurantes
A figura que fazeis
Que as Danças dos Estudantes
Já foram danças de reis...
E temos de agradecer
Com risos e alegria
Aos que nos vieram ver!
Olha aí, ó Zé Maria
Arruma aí o bigode
Cola essa porcaria:
Cada um faz o que pode
É o lema deste dia...
Ena pai! Que ror de gente !
A melhor cá da cidade!
E até o presidente
Mais toda la Edilidade!
- FICHA TÉCNICA -
Letras—A. MEIRELES GRAÇA
Texto—ABEL GRAÇA
Orquestra—TROVADORES DO CANO
Orquestração—M. MAGALHÃES
Arranjas Musicais—CANCIONEIRO TRADICIONAL
Cenografia—FERNANDO MIGUEL
Coreografia—LUIS ALMEIDA
Sonoplastia—VIMÚSICA
Luminotecnia—ELECTRICIDADE DE PORTUGAL, E.P.
Caracterização—GONZAGA DE ALMEIDA
Contra Regra—O. ALVES
Assistentes—EXM°. PUBLICO
Ponto — MANUEL ALVES
Guarda Roupa — EDITE PEREIRA e CIRCULO DE ARTE E RECREIO
Adereços — ASSOCIAÇÃO RECREATIVA DA MARCHA GUALTERIANA
Apaioóscopos—RUI CASSETES
Realização—ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ESTUDANTES DO LICEU DE GUIMARÃES
Direcção Técnica—PINTO GRAÇA
Direcção Artistica—FERNANDO CAPELA
Marketing—ABEL MACHADO
Secretariado—ABILIO PEREIRA GONÇALVES
— CORPO ARTISTICO —
FIGURANTES :
D. Afonso—JOSÉ MAGALHÃES
D. Muma—JOSÉ PINTO DE ALMEIDA
Gil Vicente—CAPELA MIGUEL
ARTISTAS CONVIDADOS
AGOSTINHO GONÇALVES
LUIS FIGUEIREDO
JOSÉ MARTINS FARIA
RUI CASSETES
JOSÉ RIBEIRO
CARLOS DUARTE
FRADES :
ABEL FARIA
ALBINO TEIBÃO
CÂNDIDO COSTA
ABEL MONTEIRO
JOSÉ ALBERTO
JOSÉ JORDÃO
FIGURÕES :
ALEXANDRE RODRIGUES
CARLOS STACK
JOSÉ GILBERTO
ILIDIDO TEIBÃO
ISIDORO LOBO
JAIME FREITAS
ANTÓNIO TEIXEIRA
HENRIQUE MACHADO
FRANCISCO CARVALHO
FALANDO DE DANÇAS E . . . GIL VICENTE!
Cidade de província, onde raramente adrega arribar uma companhia de teatro, uma orquestra sinfónica, um corpo de ópera ou bailado, não pode esperar-se refinamento do gosto popular pela Arte.
Porém, se tais ausências representam vontade política desse embotamento, em erro estarão os que dele pretendam tirar proveito: o gosto prevalece, existiu sempre na alma do nosso Povo de cujo espírito crítico se arreceiam umas quantas companhias de teatro profissional e outros grupos afins que, largamente subsidiados pelos Governos, tremem de frio se convidadas a deixar Lisboa e seu termo!
Ora se a "cultura", nas suas formas artísticas profissionalizadas, não baixa às penumbrosas serranias da província, onde mourejam os veros pagantes de esturdiados fundos, poderá o serrano ir a Lisboa "cultivar-se" ? Não. Não pode.
Ficará então por aí feito burro, besta galopante de trabalho, mero carregador de impostos? Nem pensar.
Aí vemos a província esquecida a reanimar a cultura pelos próprios meios: Cansada da ausência da Arte, cria e recria a Arte porque deveras a deseja. Aí temos o reviver de coisas antigas, o levantar do pó de Tradições passadas de orelha a orelha, sem registo.
E temos o rancho folclórico, o grupo de cavaquinhos, o teatro amador no aproveitamento dos tempos livres. (Que tempos livres ?). E temos todo o povo serrano, dinamizado por uma ideia, a colaborar nela com parcos fundos, minguado tempo, muito esforço e maior trabalho; temos divulgação musical, temos no palco o professor, o padre e o capador de porcos, o trolha, o marceneiro, o estudante. Com muita honra para todos sai ARTE.
Arte lídima, local, reinventada, imaginada ou repetitiva. Mas assumida. Colectivamente assumida nas suas insuficiências, nos seus erros, nas suas trampas. Arte, só !
Arte popular, naif, chilra, ingénua, chamem-lhe tudo senhores Artistas Subsidiados Comedores do Orçamento (A.S.C.0.), chamem-lhe tudo. Que isto é Arte de parolos, de provincianos, uns asnos. Chamem-lhe tudo !
Antes que venham os senhores sábios da Antropologia mais a Universidade dos Cucos estudar a «avis rara»; o «Minhoto», o «Ratinho», o «Alentejano», o «Beirão» ou o «Transmontano» !
Artes que lhe paguem viagem de ida e volta para tocar o seu cavaquinho no Rossio. Antes que lhe peçam para alegrar o Congresso, a reunião mundana, a passagem de modas !
Antes que lhe copiem a Arte, o sotaque característico, as tradições ! Antes que o descubram e promovam a palhaço das côrtes capitalistas, no sentido de «casas de fados da capital !»
Antes que gravem discos para impingir aos turistas ou inventem concursos na TêVê para gáudio de espertinhos de entrada grátis ! Antes que lhe ferrem no dedinho, mordidos de inveja...
Chiça, senhores ! Que «cultura» é a vossa ?
A nossa fazemo-la à nossa custa, à custa dos nossos Avós, pobrezinha mas em família. A vossa sai-nos do bolso!
Passem bem.
Corram à S.E.C. que o nosso dinheiro lá está para comprar os chistes derrancados do Parque Mayer nas parvoiçadas chulas e consabidas de revisteira graça e desencanto.
Passem bem.
Nós cá andamos nestas festanças e... o POVO Vimaranense convidamos para as Danças.
Danças de S. Nicolau, séculos de História por nós continuada, Arte herdada e feita nossa.
Obrigado, «artistas oficiais», sem desprimor: quedai-vos longe! Talvez nos vejam com GIL VICENTE nas comemorações que esperávamos de Lisboa...
Talvez GIL VICENTE lhes agradeça o esquecimento.
Também ele era um provinciano, um Minhoto imaginoso, um monstro criativo e, para mais, Vimaranense.
Obrigado pelo esquecimento dos «cultos».
A.Meireles Graça
Novembro / 86
Guimarães