Decorria o mês de Outubro do ano de mil novecentos e quarenta e
três. Era chegada a hora de pensar na organização das Festas Nicolinas. O
começo teria sempre de passar por eleger a respectiva Comissão
Organizadora, pelo que fazendo uso da tradição, fomos, eu e alguns mais,
pedir ao Vice-Reitor de então a cedência de uma sala de aulas para o
efeito. Contra ao que realmente era uso e costume, foi-nos a mesma
terminantemente negada. Doravante tudo deveria ser feito, não por nossa
iniciativa, mas por via oficial ou seja de colaboração com a Mocidade
Portuguesa que por intermédio dos seus dirigentes escolheria os nomes
que organizariam aquelas Festas. Sem instalações e entalados pelo poder
vigente, reunimos na casa da Senhora Aninhas para à revelia fazer a
eleição nos moldes habituais, ou seja, por nós e sem ingerência alguma.
Deparamos no entanto com a exiguidade do lugar que escolhemos até porque
a afluência de nicolinos interessados foi bastante numerosa. Dali ao
Jardim do Carmo era um passo, a tarde estava amena e a vontade de seguir
em frente era muita. Dito e feito, estávamos todos reunidos no dito
largo a eleger a Comissão Organizadora das Festas Nicolinas de mil
novecentos e quarenta e três, sendo o resultado desta primeira eleição
naquele local, o seguinte:
Presidente: Mário Dias de Castro
Tesoureiro: Francisco da Silva Guimarães
1º Secretário: José Luís Xavier Fernandes
2ºSecretário: José Augusto Vaz da Costa Marques
1ºVogal: Gonçalo Guise Pinheiro
2º Vogal: António José Mendes Silva
3° Vogal: Alvaro da Cunha Monteiro
Destes
eleitos, os quatro últimos, 2º Secretário e os três vogais já nos
deixaram para sempre. Os restantes, Presidente, Tesoureiro e 1º
Secretário ainda por aqui andam.
Só que não acabaram aqui os nossos
trabalhos. Conhecidos os nomes dos eleitos, foram os sete chamados à
Reitoria, onde os esperava o Subdelegado da Mocidade Portuguesa que
informou a sua disposição de considerar nula aquela eleição,
substituindo os nomes já eleitos por outros de sua escolha, como aliás
já nos tinha sido dito. Ficamos assim em um impasse difícil de resolver,
com saída muito estreita, mas não impossível de encontrar e foi o que
aconteceu. Por intercedência da Senhora Aninhas junto do Vice-Reitor de
então, que diga-se de passagem, sempre esteve do nosso lado, a solução
apareceu. Mantivemos os nomes por nós eleitos mas submetidos à
apreciação oficial. Cumpridos estes trâmites foi a lista apresentada a
quem se julgava com direito e rubricada pelo mesmo após nela assinalar a
palavra CONCORDO. Este documento encontra-se à guarda da Associação dos
Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães. Até aqui tudo foi ficando
resolvido com pequenas cedências de ambos os lados. Só que à última hora
foi-nos imposta, a título de sugestão, a bandeira da Mocidade
Portuguesa para substituir a da Academia em cinco de Dezembro no Pregão.
Perante a nossa recusa com a alternativa da não realização daquele
número, voltaram a prevalecer os bons ofícios do Vice-Reitor que mais
uma vez intercedeu a nosso favor. A bandeira da Academia voltou para a
Senhora Aninhas, donde tinha sido retirada por um funcionário de liceu,
cumprindo ordens superiores, e a da Mocidade Portuguesa manteve-se na
biblioteca em montra de vidro, lugar onde sempre deveria ter estado.
Contra a nossa vontade assim não aconteceu uma vez. Bem lutamos contra
essa excepção mas perdemos. Éramos o elo mais fraco...
E parece que é
tudo. Para memória futura julgo ter dado um pequeno contributo a todos
aqueles que continuam a tornar imorredouras as Festas Nicolinas.
Guimarães 4 de Dezembro de 2010
José Luís Xavier Fernandes