António Faria Martins dizia com propriedade ser o único vimaranense que já era bairrista antes de nascer. E por estranho que pareça... era verdade! Mas vamos a factos.
Em 1896 houve em Guimarães uma manifestação designada "União ao Porto" organizada pelas chamadas forças vivas da cidade, em desagravo pelos incidentes que dias antes tiveram lugar em Braga, sendo vítimas de enxovalhos vários e até agressões, alguns vimaranenses de diversa condição social, então em visita oficial.
Assim começou, segundo rezam as crónicas da época, a rivalidade entre as gentes das duas cidades. A citada manifestação era encabeçada por diversas senhoras e entre elas ia uma grávida em fim de tempo de seu nome Custódia Margarida. Pouco depois deu à luz um rapaz ao qual no baptismo pôs o nome de António juntando-lhe os apelidos de Faria e Martins. Assim este seu filho teve o privilégio de na barriga da mãe ter participado numa manifestação de carácter iminentemente bairrista. Daí ter feito de toda a sua vida um exemplo de dedicação exacerbada à terra que o viu nascer, pondo não poucas vezes em primeiro lugar tudo o que fosse Guimarães, em detrimento dos seus interesses pessoais, profissionais ou até familiares.
Neste contexto teve este vimaranense dois grandes amores: - o Vitoria, seu clube de sempre, de que foi dirigente anos sem conta, e as Nicolinas, das quais vamos continuar a falar. Foi nelas que ele sempre se reviu fazendo o possível para não esquecer a sua mocidade folgazona, próprias da estudantada daquela época. Conseguiu-o realmente!
A sua persistência aliada não só a uma grande teimosia, característica nele bem vincada, fez com que não tirasse nunca da ideia o que haveria de fazer para manter acesa a chama nicolina. Daquela cabeça que não se cansava de pensar, saiu a ideia de juntar alguns amigos do seu tempo de estudante e com eles organizar um almoço de confraternização. Pretexto? António Faria Martins não precisava de nenhum para o fazer, mas por um feliz acaso até o havia e que se enquadrava perfeitamente nos seus desejos mais ambiciosos. dar continuidade aos tempos em que frequentou o velho Seminário Liceu.
Assim, e estamos em 1952, subiu à Montanha da Penha e no seu Hotel confraternizaram alegremente tendo como pano de fundo um opíparo almoço regado a preceito. O convívio que se seguiu aguçou o apetite para repetir a façanha o que aconteceu no ano seguinte, desta vez já com a colaboração de Óscar Avelino Pires e Francisco Assis Pereira Mendes que foram contribuindo para que a continuidade destes encontros estivesse garantida e o convívio daqui resultante conseguisse aquele matar de saudades próprio de quem vai vendo a mocidade a ficar cada vez mais longe. Os anos foram passando, os fregueses foram aparecendo, as amizades foram-se consolidando e o "Antigamente" foi ficando mais perto. Só faltava encontrar finalidade para que estes encontros entrassem na tradição nicolina.
Não por artes mágicas mas antes como feliz coincidência que o rodar dos anos tornou natural apareceu 1961. Aqui e agora vamos fazer contas...!
Nascimento 1896, mais 6 anos de infância ficamos em 1902 com 4 de Instrução Primária vamos a 1906 a que vamos somar mais 5 anos de Liceu e chegamos a 1911 fim do curso de António Faria Martins. Acrescentaremos 50 anos e estamos finalmente em 1961. Aparece finalmente uma oportunidade de juntar ao pretexto que não precisava, a finalidade que procurava. Encontrar um título que encabeçasse estes encontros e os institucionalizasse. As contas batiam certas pois que de 1911 a 1961 iam 50 anos número ideal para ser comemorado. Prevalecia apenas a dúvida entre o fim do curso e a matrícula, tendo recaído a escolha na segunda hipótese, por motivos óbvios e lógicos. António Faria Martins criou condições para que esta sua herança prevalecesse para além de si. O que felizmente tem acontecido!
Assim nasceu o "Almoço dos 50 Anos" comemorativo de cinquenta anos de matrícula no Liceu.
Após o seu falecimento em 1980 apareceu Humberto Pinheiro, António Dias e Carvalho Jacinto que tomam conta da organização deste almoço de 1981 a 1987. Questões pessoais resultam na demissão destes dois últimos, tomando o seu lugar António Alves Monteiro e José Luis Fernandes que estiveram no activo somente em 1988 e 1989 ano em que sugerem a entrega deste encargo à Associação Velhos Nicolinos. Em total desacordo, Humberto Pinheiro demarca-se desta ideia e segue sozinho. Chama a si António de Sousa Guedes e os dois avançam para a organização do almoço de 1990 a 1995. Entretanto António Alves Monteiro e José Luis Fernandes viram os seus anseios concretizados pela concordância da Direcção da Associação, então presidida por Joaquim Mota Prego, em realizar a partir de então o evento em causa, tendo para tal a Assembleia Geral respectiva de 29 de Novembro de 1989 dado provimento a este desejo, aprovando uma resolução neste sentido. No entanto só em 14 de Junho de 1992 se realiza o primeiro almoço promovido pela Associação Velhos Nicolinos e se vai mantendo até aos dias de hoje com o brilhantismo que o fundador para ele sonhou e com a continuidade que aqueles dois velhos nicolinos preconizaram. Sempre acompanhado por António de Sousa Guedes, Humberto Pinheiro movido por razões pessoais, não aceita e considera até ingerência a atitude da Associação em ter chamado a si o referido encargo; pelo que continuou a reunir com alguns dos seus amigos em almoço com a mesma finalidade, dando lugar assim a uma dissidência que só terminou em 1995 por falta de saúde daqueles dois protagonistas. Faleceram ambos em 1997. Acabou assim o período conturbado em que viveu esta festa. Os protagonistas Humberto Pinheiro, António Alves Monteiro e José Luis Fernandes tiveram cada um a sua razão. O primeiro vivia esta organização como propriedade sua, pelo muito amor que lhe tinha, e os segundos só queriam a continuidade assegurada nas mãos da Associação Velhos Nicolinos.
Estão todos perdoados pela boa intenção!
Resumindo e por tudo que atrás foi dito, julgo ser acertado e pertinente que deverá ser 1961 considerado o primeiro ano da comemoração dos 50 anos de matrícula.
Vamos pois, como sugestão o digo, comemorar neste ano de 2011 os "CINQUENTA ANOS DOS CINQUENTA ANOS".
Guimarães no Ano Cinquentenário de 2011
José Luis Fernandes