Arquivo: A Reconstrução da Capela de S. Nicolau
Desde 1972 os Novos e Velhos Estudantes de Guimarães mantiveram aceso o seu protesto, o seu desejo de ver reparado o crime cometido, ano a ano repetindo o gesto seiscentista de recorrer a "danças e entremezes" para angariar fundos.
A Associação trabalhou pela reactivação da Irmandade de S. Nicolau, aliás nunca extinta. A Edilidade ouviu os apelos, considerou-os justos, apoiou o projecto. O IPPAR lá consentiu, talvez agora no reconhecimento de um direito histórico, que a nova Capela ficasse de novo ligada à Colegiada, muito embora no seu exterior, talvez ainda na "horta do sacristão"!
Diz o Escultor António Lino na sua belíssima "Monografia de Guimarães": "O restauro recente da Igreja da Colegiada ficou incompleto por teimosia impositiva, contra o parecer do meio culto de Guimarães, perdendo na grandeza da sua unidade".(Pag.134). De todo se recomenda aos vimaranenses leitura desta preciosa obra para que em todos desperte um sentimento de defesa do património comum que se vai afogando em cimento na fúria progressista dos menos avisados ..
Graças a Monsenhor Araújo Costa, na altura ilustre Arcipreste de Guimarães, as pedras da capela destruída, a sua instância numeradas e arrumadas nas hortas do Arciprestado.
Não era Nicolino de facto mas certamente o era pelo coração; não era arquitecto nem engenheiro mas certamente mais sensível aos sentimentos que outros arrastam com as pedras demolidas no furor de obras "colossais", arrasadoras da História.
Obrigado, um obrigado sentido por todos os Nicolinos, Monsenhor Araújo Costa, D. Prior da Colegiada de Guimarães!
Bem-haja por nos ter preservado essas pedras, pedras que tanto nos falam dos Nicolinos.
O facto é que o que aí temos resulta de muito esforço e perseverança de muitos nicolinos e do apoio da Edilidade e do Comércio e Indústria vimaranenses!
Em 1998 nós, Nicolinos, tínhamos reconstruído a Capela de S. Nicolau "possível" após o seu derrube em 1970.
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Era forçoso que chegasse este glorioso dia.
Depois de décadas de dedicado esforço à causa nicolina, estamos a celebrar um facto histórico para a cidade. Está de novo fisicamente edificada a capela de S.Nicolau, fisicamente, porque em espirito nunca deixou o nosso horizonte e foi um sonho do qual hoje acordámos radiantes. Como depositários de uma memória que é de todos, nunca esmoreceu a vontade de um grande número de Vimaranenses e Nicolinos que teimosamente não se renderam àquilo que pareciam evidências e obstáculos intransponíveis. Se motivo faltasse para o orgulho de ser Nicolino, a chegada a esta meta a tanto bastaria.
A conjugação de muitas vontades, pessoais e institucionais, desde o firme arranque final do processo de reativação da Irmandade de S.Nicolau em 1993, sob a discreta mas eficaz colaboração entre o Presidente da Direção da Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães e o Reverendo D. Prior da Colegiada, Joaquim Mota Prego de Faria e Monsenhor José Maria Lima de Carvalho, respetivamente, que conseguiram reverter o progressivo apagamento da Irmandade e refundá-la com antigos Irmãos até ao resultado final, traduz toda uma herança de inconformismo transmitida e mantida acesa por muitos, igualmente importantes, os Juízes das Mesas da Irmandade, o Arquiteto Eduardo Ribeiro que não estando já entre nós, foi e deve ser lembrado como um entusiasta deste projeto, e uma referencia como Nicolino.
A Câmara Municipal de Guimarães e o seu Presidente Dr. António Magalhães que sempre acarinhou este empreendimento, os demais que fizeram chegar aos centros de decisão a real valia para Guimarães e sua memória coletiva, a reparação desse erro inominável que foi a demolição deste agora reaberto espaço de culto. Mas há uma verdade para além de tudo isto, não fora o culto a S.Nicolau, a devoção que lhe votaram gerações de Estudantes, o enraizamento profundo no sentir de Guimarães desta Tradição que os anuais festejos trazem tão viva, e decerto o rumo seria diverso deste.
Há em todos os Nicolinos um projeto de vida comum, um fio condutor que não se explica nem adjetiva, mas que faz de cada um de nós, parte de um todo muito para além da mera soma das partes. Assim foi na génese do culto a S.Nicolau e assim é hoje. Com danças em 1600 se reuniu o necessário para construir uma Capela ao Santo, com as danças dos nossos dias se impediu que o seu desaparecimento fosse definitivo, os Nicolinos lembram.
As Danças de S.Nicolau representam um legado que remonta a pelo menos três séculos, foi com a fé e a alegria dos que nos precederam que se construiu a tradição nicolina, foi a esse espírito que muitos se entregaram e entregam, recebendo o testemunho nicolino e procurando transmiti-lo aos que se seguem. E como cada vez mais vale a pena, vamos continuar.
Pedimos pois que nos emprestem olhos e ouvidos por um par de horas para tentarmos dentro daquilo que podemos, homenagear todos aqueles que não estando nesta sala, aqui, ainda assim os sentimos.
Ricardo Gonçalves
- Danças de S. Nicolau 1998