Arquivo: Pregão no Século XIX
Organização do bando escolástico á moda antiga
Minerva e mercúrio seus principais figurantesem “O S. Nicolau dos Estudantes” de A.L. de Carvalho
O cortejo do Pregão tem como arautos - os bombos.
Seguidamente, entre um temo de cavaleiros, ergue-se a bandeira da
academia. É a vez do carro, onde, entre colegas, vai o estudante que
lança o Pregão. Apresenta-se o pregoeiro com o traje académico, de capa e
batina, mascarilha no rosto. Foi outrora diversa a figura do pregoeiro.
Por notícias colhidas, o bando escolástico de 1844 saiu com duas
figuras mitológicas: Mercúrio e Minerva. A primeira destas personagens,
fazendo a apresentação da segunda, assim falou:
“Queridos filhos meus, que a doce vida
Gastais em me adorar no templo honroso,
hoje férias vos dou à dura lide,
para entregar-vos ao recreio, ao gôso.
Mercúrio em sons jocundos anuncia
O festejo, o prazer do excelso dia."
Acabada esta breve fala de Mercúrio (deus da eloquência), Minerva (deusa da ciência), começava a recitar o Pregão.
Neste
ano de 1844 - como foi registado em manuscrito coevo - a figura de
Minerva foi interpretada pelo escolar «aposentado» António Joaquim de
Almeida Gouveia, e a figura de Mercúrio coube ao estudante Luís Pereira
do Lago. (em 1899 desempenhou o papel de minerva um estudante de nome
Joaquim Costa, da freguesia de Brito. Tanto pegam de raiz as alcunhas
usadas nos meios escoásticos que, desta feita, Joaquim Costa passou à
posteridade com a alcunha académica de - «o Minerva».)
Uma noticia relativa às nicolinas de 1854, dá-nos esta ordem do cortejo:
«no
dia 5 de Dezembro, depois do meio dia, saiu o bando da casa do teatro
de s. Francisco (neste modesto barracão denominado «teatro»,
representaram os escolares, algumas vezes), levando as seguintes
figuras: fama, Apolo e as duas musas, Euterpe e Calíope... »
«o
pregoeiro (ia) de capa curta... À portuguesa antiga, fechando o préstito
duas figuras - Portugal e Guimarães, cada uma com sua bandeira.
«em
lugar do tambor-mor (tambor-mor -copiado da antiga milícia armada.
Quando em marcha, seguia na frente com um grupo de tambores, lançando ao
ar a sua maça, em proesas de acrobacia) ia um corneta, vestido à
beduína, montado em um cavalo, logo adiante do pregoeiro, tocando quando
era necessário fazer calar os tambores, para se recitar o bando.»
(jornal do porto, Braz Tizana, n.º 286).
Como
se vê desta composição do cortejo, o figurado variava. Desta vez, Fama e
Apolo, seguiam no préstito montados em cavalos com gualdrapas, sendo
estes «governados» pelas musas.
Diz outra notícia:
«no domingo
saiu o bando... Com todo o asseio e boa ordem, fazendo o clarim calar os
tambores, quando o pregoeiro recitava o bando escolástico... O
pregoeiro ia rica e elegantemente vestido, e o carrinho que o conduzia,
vistosamente ornado, podendo dizer-se bem de todas as mais caretas,
tanto de pé como a cavalo.»
(religião e pátria - 1852.)
Assim se pode concluir:
Não
havia uma ordem única na constituição deste cortejo. O figurado que o
compunha, tinha a sua origem de inspiração no Olimpo - a morada dos
deuses mitológicos - destacando-se de entre todos os deuses e seus
satélites, aqueles que se ligavam, por qualquer maneira, ao âmbito dos
estudos.