Arquivo: Missa de S.Nicolau


A Procissão de S. Nicolau

No domingo mais próximo do dia 6 de Dezembro – Dia de S. Nicolau – é o dia da procissão do santo. Ele sai da sua capela “residência” logo de manhã em direcção ao templo magno – a Igreja de Santa Maria da Oliveira!
Pelas 11 horas tocam os sinos e os últimos membros da Irmandade de S. Nicolau, trajados a rigor, dão entrada apressados, no templo onde se vai cumprir o culto, conforme a velha tradição.
A igreja está repleta não só de devotos mas também de curiosos e até estrangeiros atraídos pela originalidade dos acontecimentos.
Pelo terceiro ano se conseguia esta magnificência, mobilização e participação. A irmandade do Santo rejubilava de contentamento!!!
Ladeando o altar, duas filas de cada lado de cidadãos vimaranenses, cumprem o seu voto como irmãos de S. Nicolau, trajados de capa preta contrastando com a alva fita larga que, pendurada ao pescoço, suporta o medalhão de prata com a figura do patrono em alto relevo gravada.
O Monsenhor José Maria dirige o ritual da missa que atinge o auge com a elevação. No silêncio absoluto do momento, eis que repica o som de uma caixa reforçada por um bombo. A novena perfeita, tonitruante ecoa pelos recantos do templo. Naquele silêncio absoluto exultam de orgulho e contentamento os jovens nicolinos que no caro alto cumpriram a selecta batida Nicolina. Também toda a Irmandade, por sentirem a energia irmandadeira, plena de tradição velha, transmitida ao longo de muitas gerações, que sempre se arrepiam quando ouvem o troar das caixas e dos bombos em qualquer espaço da cidade…
– Ide em paz e S. Nicolau vos faça companhia.
O ritual logo se fina e exultam de alegria e fraternidade todos os presentes. Uns saem impacientes para a praça maior da Senhora da Oliveira. Outros se mantêm no templo a preparar o andor de S. Nicolau para integrar o cortejo que se vai seguir. Azáfama é notória mas é evidente que todos sabem o que têm de fazer. Um velho nicolino assume a função de mestre da cerimónia.
Cá fora expectantes uma multidão de gentio anónimo sentado nas esplanadas, olham e logo se levantam cheios de curiosidade.
À frente, uma brigada de nicolinos com fato de trabalho (calça negra e camisa branca, lenço tabaqueiro e barretina verde escarlate) levam os instrumentos para acordar o burgo. Logo seguidos pela comissão de festas nicolinas trajados a rigor de capa e batina.
Duas filas de irmãos fazem as alas por onde passará o andor do Santo.
O som das caixas e bombos ecoa pelas ruas estreitas medievais e de todo o lado se vê gente a tentar chegar a tempo de se ver e participar na Procissão de S. Nicolau, que vai entretanto garbosamente na Rua de Santa Maria. Logo inflecte pela esquerda a dar entrada na Praça de Santiago para gáudio dos moradores que, nas janelas vão batendo palmas por o Santo ter tido a coragem de vir finalmente para a rua. A sua velha Praça!!!
Ainda não chove mas, o céu está plúmbeo!!...
O sol fez duas ou três tentativas para espreitar. Queria ver o senhor S. Nicolau que há muitos anos não cumpria o esforço do seu cortejo e procissão. Não o deixaram participar com a sua luz e calor!!!
Embocando na antiga Rua Escura, agora do Gravador Molarinho cerimoniosamente, todos se esmeram ao som estrondoso dos instrumentos nicolinos, que lá na frente, batem nas peles ranas e pranas bem ritmadas, perfeitas.
Desembocam na praceta diante da Torre dos Almadas e logo continuam pela velho troço da antiga rua “çapateira” hoje Rua de D. Maria II. S. Pedro com inveja de S. Nicolau dá-lhe naquele momento, uma bátega de água que faz acelerar o cortejo. Muitas “umbrelas” se abrem como cogumelos para abrigar transeuntes. A maior parte do desfile continua sem medo à chuva e acabam todos a desaguar no Largo da Senhora da Oliveira. Metade do cortejo passa pelo passeio das colunas para se proteger, outros no Padrão do Salado, a maioria na igreja.
Depressa se desfaz a procissão porque todos procuram abrigar-se da bátega que agressivamente parece castigar todos os presentes por terem tido o atrevimento de pôr na rua a velha procissão ao senhor S. Nicolau, que não acontecia no burgo há muitos anos.
A Irmandade de S. Nicolau suspira de alívio por ter cumprido a velha tradição. Abraçaram-se e irão confraternizar à mesa!...
Era o ano da graça do Senhor de mil novecentos e noventa e oito e eu fui o mestre de cerimónia.

Fernando C. Miguel

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