Arquivo: Pregão de 1866

[Impresso]/S.L.-[Guimarães: CFN],1866.-[1] f.;23x21 cm. Um exemplar impresso s/ papel branco, outro em papel laranja .
[Manuscrito]/S.L.In: [Bandos Escolásticos]1817-1872.-f.35.

Recitado por Nicolau Máximo Felgueiras
   
O pregão de 1866 vem assinado com as iniciais S. L.. João de Meira aventou a hipótese de se tratar do padre Sebastião Leite, que havia sido pregoeiro cinco vezes, entre os anos de 1849 e 1855, tendo sido, neste último ano, um caso singular na história das festas dos estudantes de Guimarães a S. Nicolau: foi, simultaneamente, o autor do texto e o seu declamador.

A notícia do jornal O Vimaranense, de 8 de Dezembro daquele ano, parece confirmar a suposição de Meira:
A letra do bando, que nos dizem ser do snr. padre Sebastião da Costa Vieira Leite agradou geralmente, e sobretudo a sua recitação, de que foi incumbido o sr. Nicolau Felgueiras.
Um outro grupo de estudantes mascarados percorria ao mesmo tempo algumas das ruas da cidade com um bando burlesco e de estilo epigramático e jovial.

A versão impressa do pregão traz uma gralha na data: diz que foi “recitado no dia 5 de Novembro de 1866”.


BANDO ESCOLÁSTICO
RECITADO NO DIA 5 DE DEZEMBRO DE 1866
POR
NICOLAU MÁXIMO FELGUEIRAS.

Minha terra, colegas e patrícios;
Romanos, gregos, índios e fenícios,
Habitantes de aquém e de além-mar,
E os de fora do mundo sublimar,
Apurem bem os seus cinco sentidos
E transformem-nos todos em ouvidos.

Eu venho anunciar a festa ingente
Do escolástico povo, e por contente
Me dera, se pudesse na verdade,
Expor-vos do programa só metade.

Lograreis amanhã folgança e riso,
E coisas tais, que dão volta ao juízo:
Cavaleiros vereis (lembrança fina)
Armados de maçãs para a menina;
Vereis depois, vertiginosas danças,
Não só de gentis moços, mas de panças
– Garridos anciões, que em tal festejo
Não querem de brincar perder o ensejo:
Tereis também de ver exibições,
De fazer andar tudo aos canelões.
E não menos de ouvir, eu o certifico,
Felizes ditos de conceito e pico,
E pico tão discreto e concertado,
Que podeis ter por caso averiguado,
Não ferir os ouvidos da donzela
Que porventura esteja na janela.
Porém que digo, minha ideia acesa
Na meiga luz da feminil beleza!

Delícia, encanto, amor felicidade!
Ò vós que sois da humana sociedade
A parte mais etérea e mais divina,
Escutai a palavra que me ensina
A viva inspiração de vossas graças:

Por certo que amanhã, ruas e praças,
Dobrado Guimarães é área estreita
Fará a festa escolar; mas que aproveita
O muito sem o belo? Se amorosas
Amanhã vos mostrardes, ò formosas,
De puro gozo, o rosto cintilante,
Dispostas para os brincos do estudante;
Se quereis ver na terra um paraíso,
Sede nossas, cedei ao nosso aviso;
Adoçai as agruras desta vida
Que passou doze meses consumida
Nos frios bancos da aula, e na esperança
De inda poder... Ai! sume-te lembrança...

Sabeis que mais?... pois vou vo-lo dizer:
Meus amigos, adeus até mais ver.
S. L.

Transcrição e comentários de António Amaro das Neves
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António Amaro das Neves
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